segunda-feira, 6 de maio de 2013

Romance da Praça Roosevelt

http://www.mediafire.com/view/?eegpe6wxsuz093z Meu novo romance. Uma prévia. Tenho vontade de escrever um romance. Um romance para ser lido por ninguém, porque jamais terei leitor algum. Ou terei alguns leitores. O que quero dizer é que nunca serei um autor popular, destes que publicam livros por grandes editoras e fazem lançamentos na Livraria Cultura. Bem, pequenas editoras também fazem lançamentos na Livraria Cultura, mas você entendeu o que eu quis dizer. O problema, ao escrever um romance, é que vou desistir logo. Tenho mais de um milhão de romances que nunca terminei, como diria Forrest Gump. Gosto de histórias que posso terminar no mesmo dia. Mas qual o tamanho de um romance? O primeiro romance escrito tinha uns 78 volumes de 800 páginas cada um. Na Inglaterra. Não lembro o nome do cara. Ninguém jamais leu este livro. Alguém leu este livro? Eu duvido. Comprei um, certa ocasião, por pura inércia, porque o autor era muito falado na Praça Roosevelt. O livro do cara tinha 60 páginas. Isto significava que ele tinha mandado para a editora cerca de 30 páginas. E nestas 30 páginas, ele repetia a mesma frase, questionando-se por que havia tomado um pé na bunda, mesmo sendo rico e famoso. E talentoso, em sua concepção rooseveltiana. Não me pergunto por que é que alguém escreveria um livro destes, porque as pessoas escrevem tudo que é merda. Não me pergunto por que é que alguém publicaria um livro destes, porque as editoras publicam qualquer merda de autores mais ou menos famosos que eles acham que venderão pelo menos a primeira edição de 3 mil exemplares. Os livros no Brasil saem com 3 mil exemplares e vendem uns 300 e olhe lá. Se um livro vender a primeira edição, a editora já fica feliz da vida. Sai no jornal: “Bestano de Tal lançou livro novo”. Bem, se ele for mais ou menos notório, vai vender a primeira edição e a editora vai ficar satisfeita. O lucro de um livro é muito alto. Pagam 1 real para o autor, gastam 1 real para publicar e vendem a 20 reais. Isto é 18 reais de lucro ou 54 mil reais de lucro para publicar uma merda com 3 mil exemplares. Uma editorinha meia boca pode lançar um livro destes por mês e está muito bom. Pergunto-me por que é que alguém leria um livro destes. Você consegue fazer sexo anal com camisinha? A coitada da mina fica de quadro, pacientemente esperando você enfiar seu pau, dentro de uma camisinha, mas ela contrai os glúteos e você não consegue abri-los, para localizar o cu dela. Uma vez Edinilton estava na entrada dos Satyros, na Praça Roosevelt, pensando: “Queria saber por que uma coisa tão genial quanto os Satyros fica condenado a estar aqui na Praça Roosevelt, no meio deste monte de merda”. Ele assistiu a todos as peças dos Satyros nos últimos 20 anos. De todas as formas. De pé, deitado, de cabeça pra baixo, pelado, lambuzado com clara de ovo. Ao entrar numa peça dos Satyros, você nunca sabe o que vão fazer com você. Uma vez ele tomou um choque de 220 volts. De repente, lá está Overman Cruz, autor teatral e baixista de uma banda de samba rock, que era considerado turista na própria casa. Overman Cruz tinha uma característica: já chegava alcoolizado aos locais. Provavelmente, já saía de casa alcoolizado. E lá estava Overman, segurando um tubo de papel sulfito. Desde que Edinilton conhecera Overman, num cursinho pré-vestibular, ele andava com um tubinho de papel sulfito, geralmente era alguma peça de teatro inédita, às vezes mais de uma. - Hoje eu posso pagar uma cerveja. – iniciou Edinilton. Overman, com sua voz eternamente rouca, abriu os braços e respondeu: - Porra, Edinilton, você sempre paga uma única cerveja, hoje você deveria pagar pelo menos duas. - Então vamos no Pão de Açúcar, porque aqui nos Satyros não vende cerveja. - E por que no Pão de Açúcar, caralho? - É mais barato. - Vá se foder, Edinilton, você nunca ficou rico sendo tão miserável. Vamos tomar uma cerveja no boteco aqui do lado. Foram ao boteco ao lado. Overman fingiu que não conhecia o garçom, pois nem o cumprimentou, embora freqüentasse a Praça Roosevelt há mais de dez anos e já tivesse sido atendido pelo garçom mais de mil vezes. - Aí, bicho, traz um rabo de galo e uma cerveja Serramalte e dois copos americanos. Edinilton botou a mão na cara, envergonhado. O garçom trouxe o rabo de galo, mas também trouxe uma cerveja Skol e dois copos grandes, tipo tulipa, mas que pareciam copos onde se vendem extratos de tomate. - Cadê a Serramalte, bicho? O garçom respondeu: - Serramalte é cerveja de retardado. Copo americano também. - Só de raiva, me traz uma Erdinger. – gritou Overman. - No dia que vender Erdinger na Praça Roosevelt, acaba o mundo. – respondeu o garçom. - Eu não volto mais neste boteco. – concluiu Overman, olhando para Edinilton. - Poxa, a combinação de Erdinger com rabo de galo seria, no mínimo, antropofágica. – comentou Edinilton. – Se estivéssemos no Pão de Açúcar, haveria Erdinger. Quente, mas haveria. - Vamos tomar essa porra logo e foda-se. – encerrou Overman, virando o rabo de galo num gole só. - Eu quero fumar maconha hoje. – disse Edinilton. - Está comemorando o que afinal, porra? - Fui mandado embora do meu emprego. Estou com a indenização aqui. Pretendo catar uma puta que dê o cu e não cague em mim. - Eu comi uma que dá o cu e não caga. Quer que eu te levo lá? - Overman, eu não vou comer uma puta que você já comeu. - A gente não está aqui dividindo uma cerveja? - Em copos diferentes. - Frescura do caralho. - Cara, uma mina pediu para eu comer o cu dela e fechou a bunda. Comprimiu os glúteos e eu não consegui enfiar o pau. Já não consigo comer um cu de camisinha, imagina assim. - Como não consegue comer um cu de camisinha? - É difícil enfiar o pau num cu usando camisinha. - E a lubrificação da porra da camisinha? - Seca. - Tu leva uma hora para enfiar um pau num cu, mano? Cara, eu vou te falar uma coisa: é possível usar lubrificante dentro e fora da camisinha. Deixa o baguio todo lambuzado. Come cu até de virgem na maior facilidade. - Mas e se a mina caga? - Foda-se. Deixa cagar. Tá escrevendo o que? - Fui ghost writer de um cara que nunca me pagou e nem vai pagar. Falou que não tem dinheiro. - Ele já publicou o livro? - Já. - Que merda. Que livro é? - Um sujeito que era veado e era casado com um advogado que tinha AIDS. - Tipo o filme Filadélfia? - Igualzinho o filme. Mesma coisa. A única diferença é que a história se passa em Itapecerica da Serra. - Continua igual. Itapecerica da Serra e Filadélfia são exatamente a mesma coisa. - Cara, eu fiz uma coisa em Itaquaquecetuba, na semana passada. Eu seqüestrei uma família sem usar nenhuma arma, só na base da conversa. - Vai tomar no cu. - Presta atenção nos detalhes. - Mas não existe puta que engula porra. A não ser que seja travesti. - Travesti come o rabo da gente. Eles nunca fazem sexo ativo, muito menos beberiam porra dum cliente. - Bebem sim. O Baiano da Silva disse. - Quem engoliu porra foi ele. Presta atenção na minha história. Eu tinha acabado de ganhar a coleção de livros do Tristan Shandy de um amigo meu, do Rio de Janeiro, que é escritor de ficção científica. Nunca li nenhuma página. Depois eu conto esta história, estou com preguiça agora. Você já comeu uma enfermeira? - Meu amigo, já comi todas as categorias profissionais que existem. - Já comeu uma enfermeira lá no hospital mesmo? - Não, só à paisana. - Eu já comi uma, em Manaus. - Era índia? - Por que você pensa que todo mundo que mora em Manaus são índios? Os engenheiros da Harley Davidson e da Philips são índios? - Ouvi falar que são. - Minha enfermeira parecia mameluca. Ou cafuza. Ou cabocla. Sei lá. Mistura de índios, negros e portugueses. Não sei como uma pessoa pode ser a mistura de três etnias, porque só duas pessoas geram uma terceira e não três. Eu acho. Ou é possível que dois espermatozóides diferentes invadam um óvulo ou o mais estranho: um espermatozóide entra com tanta velocidade num óvulo que acaba saindo do outro lado e penetra um segundo óvulo, não sem antes deixar uma parte do seu material genético no primeiro. - Mas nasceriam duas pessoas pela metade. - Tem razão. Então eu cheguei ao Rio de Janeiro. - Cê tá é louco. - Que foi? - Foi fazer o que no Rio de Janeiro? - Procurar uma mina que eu conheci na Bahia, que era do Rio de Janeiro e me fez a melhor chupada que já tomei na vida. Uma chupada é uma coisa que não se esquece e vale a pena ir ao Rio de Janeiro para tomar outra chupada. - Engoliu? - Não, claro. Só mulher muito apaixonada engole porra. Ou querendo alguma coisa. Engolir porra é moeda de troca, para as mulheres. Não vão engolindo qualquer porra. Mas a chupada da carioca foi boa. Tanto que voltei ao Rio para tomar outra chupada daquela, que nunca tomei em São Paulo, nem em nenhum outro lugar. Um longo silêncio se abateu sobre os amigos. Quase tomaram uma garrafa inteira de cerveja. Foi Edinilton quem quebrou o silêncio: - Imagine que dois irmãos tenham dois filhos. - Vão nascer deformados. - Sim, casamento consangüíneo é uma merda. Mas aí os dois resolvem ter mais dois filhos. Depois de quantos cruzamentos, um ser humano, fruto de incontáveis cruzamentos consangüíneos, transforma-se numa planta? - Isso tem a ver com o lance do Rio de Janeiro? Quer comer batata frita? Oh, garçom revoltado, tem batata frita? - Na verdade, a única coisa que tem é batata frita. – respondeu o garçom. - Manda. – solicitou Overman. - Mas como eu estava dizendo, após um de meus desempregos, fui à Rodoviária e peguei um busão para o Rio de Janeiro. Eu não gosto da Via Dutra. Toda vez que passo ali, indo para os lados do Rio de Janeiro, acho que vou morrer. Para falar a verdade, acho que já morri ali e ainda estou vivo. - Ah, vá, morrer na Via Dutra é clichê. Todo mundo já morreu na Via Dutra. - Pois é. Pretendo morrer em outro lugar. Em Cristalina, por exemplo. - Onde fica essa porra? - Fica em Goiás ou no Distrito Federal, uma cidade alta pra caralho, faz o maior frio. Os caras ficam na rodoviária vendendo pedrinhas coloridas. Eu falei para um sujeito que ele ganharia mais dinheiro vendendo pão-de-queijo. Mas enfim, quando eu estava em Cristalina, eu pensei: eu queria morrer aqui. - E ser enterrado debaixo de um monte de pedrinhas coloridas? - Seria uma boa. Voltando ao Rio de Janeiro, eu vi uma coisa estranha. O primeiro a descer do ônibus, quando chegamos lá, foi o motorista. Normalmente, o motorista encosta e fica olhando os passageiros descendo e pegando suas malas no bagageiro. Eu fui a pé até a Marina da Glória. Aliás, eu não estava com nenhuma bagagem, nem bagagem de mão. - Qual foi a coisa estranha que você viu, afinal? - O fato do motorista descer correndo do ônibus. Acho que ele estava com caganeira. - Mas isto é irrelevante para a história. - Pois é. Você toma um Red Label? - Você está pagando um Red Label? - Até dois. Dinheiro de indenização é amaldiçoado, a gente tem que gastar o dinheiro todo ainda esta noite. - Então desce duas doses? - Desce logo uma garrafa. - Não vai ter Red Label nesta pocilga. Edinilton sinalizou para o garçom, que se aproximou, achando que iria ser humilhado mais uma vez. - Por acaso você vende garrafa fechada de Red Label? - Claro. – disse o garçom. – até o bar do meu pai em Jequié vende Red Label. - Então porque você não é garçom do seu pai em Jequié? – perguntou Overman. - Porque eu não teria o prazer de lhe servir, senhor. – disse o garçom. - Arrasou, Jequié. – comentou Edinilton. – Se você tiver black label, vai ganhar caixinha. - Meu amigo, se aqui não tivesse Black Label, eu arranjava um nem que tivesse que matar minha mãe. - Esse é garçom bom, vai subir na vida. – comentou Overman. E o garçom, a partir daquele momento, após dez anos, enfim ganhou um nome: Jequié. Overman, impaciente: - Cara, desembucha logo a história do Rio de Janeiro, que você disse que tinha acontecido em Itaquaquecetuba. - Que Itaquaquecetuba? - Você começou o monólogo dizendo que tinha seqüestrado uma família em Itaquaquecetuba e de repente, mudou para o Rio de Janeiro. - É mesmo? Foi mal. Mas aconteceu uma coisa em Itaquá que conto depois. No Rio de Janeiro, para finalizar, após o Jequié abrir a garrafa e preparar duas doses de black label muito bem preparadas, girando a garrafa sobre o gelo, coisa que só se faz em restaurantes do outro lado da Avenida Paulista, muito embora antes da Avenida Paulista haja um ou dois restaurantes bons e no passado havia, ali próximo da Praça Roosevelt, restaurantes muito bem conceituados. Se bem que existe a Família Mancini na Avanhadava e há quem diga que o Mancini é o melhor restaurante de São Paulo. – Jequié, toma aqui vintão. É o primeiro vintão da noite. Vai embora para casa de táxi, hoje. - Eu sou baiano, tenho moto. - Pois vai encher o tanque hoje. - Eu não entendi a frase “Sou baiano, tenho moto”. – disse o ignorante Overman. - Todos os nordestinos têm motos. Aqui em São Paulo, quase todos os garçons andam de moto. - Eu não sabia deste detalhe. - Overman, você não vai muito longe se limitar seu horizonte de conhecimentos aos descendentes de portugueses novos-cristãos. Existem outras etnias em São Paulo. Overman deu risada. - Concluindo o Rio de Janeiro: a mina que eu procurava morava em Campo Grande. - Você não falou que é no Rio de Janeiro? - Campo Grande é um bairro do Rio de Janeiro. - Ah, é mesmo. - Sabia que uma vez um garoto estava perdido em São Paulo e disse para os policiais que morava em Campo Grande. Os policiais levaram o moleque até o Mato Grosso do Sul para achar a família dele. Só depois alguém reparou que ele tinha sotaque carioca. Perguntaram para ele: por que você tem sotaque carioca? Ele respondeu que era porque tinha morava no Rio de Janeiro. - Mas que moleque anta, por que ele não falou logo que morava no Rio de Janeiro? - Por que ele achava que ainda estava no Rio de Janeiro, quando ficou perdido em São Paulo. Parece que ele entrou num ônibus de viagem e dormiu no bagageiro, sei lá. - Se você não terminar esta história, eu vou embora. - Não vai embora, a gente vai comer umas putas ainda esta noite. Que façam sexo anal. E não caguem no nosso pau. - No meu pau, pode cagar. Outra coisa, Edinilton, você disse que tinha feito isto na semana passada. - No ano passado. Eu falei “semana passada”? - Falou. - Bem, foi no ano passado. A família está sob meu jugo até hoje. Eles morrem de medo de mim. Eu peguei o ônibus para Campo Grande. O Rio de Janeiro é maior do que eu pensava. A gente fica achando que o Rio de Janeiro é só a zona sul, Ipanema, estas coisas. E também fica achando que a qualquer momento vai entrar uma turma dentro do ônibus e assaltar todo mundo. Mas já conversei com motorista de ônibus que trabalhou anos, no Rio, andando no meio das favelas, à noite, e nunca houve um assalto sequer. Os meios de comunicação nos fazem pensar nisto. Acho que São Paulo tem mais assaltos a ônibus e ônibus incendiados, o que eu não entendo muito. “O problema foi saber onde descer, em Campo Grande. Então eu vi uma padaria chamada Padaria Campo Grande. Presumi que estava em Campo Grande e desci. Estava um calor da porra. As meninas usam pouca roupa nas cidades muito quentes. Eu vi isto em Minas Gerais. Entrei na padaria, tomei um chopp, comi um pastel. Tomei outro chopp. E decidi colocar meu plano em ação. “Naquela época, eu pensava muito na fase melancólica da humanidade, que virá após o século 22 ou 23, quando a humanidade vai esperar pelo fim e imaginar algum lugar no universo onde vai guardar seus tesouros. Você não faz idéia do que estou falando, né? Nem eu, na verdade. “Mas, como sou um visionário, ou melhor dizendo, um visionário quântico – você ainda está acordado, Overman? – mas ainda não um visionário poincaré-lobatchewiskiano, já sou melancólico desde que nasci, o que me coloca à frente de Luís Felipe Pondé, que se considera quase um melancólico. Conhece Luís Felipe Pondé? Não queira conhecer. Não acrescentará nada a sua vida, à exceção de depressão e angústia e um certo asco que nem essência de... de... como é mesmo o nome daquela planta? Boldo-do-chile! Nem essência de boldo-do-chile aplicado na veia resolve. Ou aplicado diretamente na carótida, conforme eu vi no Dr. House. “Fui para cima e para baixo. Era uma quarta-feira. Vi uma daquelas casas com portão baixo. Em seguida ao portão, há um jardim razoável e mais à frente, uma janela com grade e um portão de ferro alto que esconde uma garagem. Não havia carro nenhum ali. Passei na frente da casa umas quatro vezes. Às 17h30m, mais um menos, um Ford Ecosport parou à frente do primeiro portão. Um homem barrigudo desceu. Uns 50 anos de idade. O tipo de pai de família que vive uma eterna rotina autopoiética. Já te falei da minha teoria da rotina autopoiética? Qualquer dia eu falo. Pois bem, o homem entrou no jardim e abriu, com uma chave, o portão grande, da garagem. Eu me aproximei e encostei na mureta ao lado do portão. “-Posso te ajudar, amigo? – disse o homem, sem se abalar muito, caminhando em direção ao carro. “-Sim, meu nome é Edinilton X e estou seqüestrando sua família. “-Como é que é? – respondeu o homem, entrando vagarosamente no carro, olhando firme e preocupado para mim. “Eu sou Edinilton X, vim de São Paulo para seqüestrar a você e sua família. “Não brinca com isto, rapaz. – disse o homem, fechando a porta do carro. “Eu me aproximei do carro e debrucei junto à janela aberta, colocando a mão esquerda no carro e deixando a direita abaixada, sem que ele pudesse ver o que eu estaria segurando. Olhei firme para ele e disse, também firme: “- Preste muita atenção. Eu estou armado com uma Taurus calibre 38. Um parceiro meu está do outro lado da rua e outros parceiros estão em outros lugares aqui em volta. Um movimento estranho seu, eu puxo meu revólver e explodo sua cabeça. “Nunca fui tão assustador na minha vida. Naquele momento, eu poderia ter morrido. Se o cara estivesse armado, teria dado um teco na minha cabeça naquela hora. Mas ele ficou em estado de choque, me olhando com os olhos arregalados. Perguntou, com a voz meio embargada: “Está falando sério? “- O que você acha? Quer testar se estou falando sério. – falei de forma mais assustadora. – Duvida de novo de mim que eu te mato, filho da puta! “Putz, Oscar de melhor ator, cara. “Naquela época, eu estava pensando em lançar um refrigerante de erva cidreira, mas isto não tem nada a ver com a história. “- O que você quer que eu faça? – perguntou o homem e percebi que ele deveria ser um homem instruído, talvez com curso superior, apesar de eu achar que Ford Ecosport é o tipo de carro que uma pessoa só possui porque ganha num sorteio em hipermercados, shoppings centers, etc. Nada a ver este negócio de identificar a personalidade de uma pessoa pelo carro que ela tem ou pelos sapatos que usa. Ou você acha que é possível conhecer a história de uma pessoa olhando em seus sapatos? Naquela época também, eu já estava pensando em escrever meu primeiro livro para distribuição gratuita pela internet, assim poderia ser a maior maluquice do universo, meu livro “foda-se”. “-Em primeiro lugar, todos os seus movimentos devem ser cautelosos, cuidadosos e lentos. Se eu suspeitar de qualquer piscada estranha sua, eu mato você e mato sua família inteira. Não olha pra ninguém na rua! “Foi o único momento em que temi que alguém na rua desconfiasse de alguma coisa e chamasse a polícia. O Capitão Nascimento não iria ter um pingo de dó. “-Vai entrando com o carro devagarzinho. – ordenei. “O cara suava em bicas. Gostou da expressão “suava em bicas”? Eram 18 horas, mas estavam uns 45º no Rio de Janeiro, no mínimo. Vi o cara tentando engatar a primeira marcha, todo estabanado, até que conseguiu entrar. Ali, para mim, era um caminho sem volta. Quando eu estava fechando o portão, com uma expressão simpática, para que as pessoas na rua pensassem que eu era parente ou amigo do sujeito, até pensei em desistir e sair correndo, mas continuei. Eu precisava provar minha teoria de que seria possível seqüestrar uma família sem arma nenhuma. Eu já tinha ouvido falar de gente assaltando banco com chave de fenda, com garfo, com injeção cheia de sangue contaminado por AIDS. Minha ocorrência seria apenas através das palavras. Até então estava funcionando. “Olhei por alguns segundos para o jardim mais ou menos cuidado da casa. Havia rosas vermelhas e rosas, uns comigo-ninguém-pode, um pé de alguma fruta cítrica, talvez limão, um pouco de capim e mais algumas ervas que não pude identificar. “Já ouviu falar que toda casa tem seu próprio cheiro? Só as visitas percebem. Às vezes, o cheiro é bem ruim. Eu brincava na casa de um vizinho, quando criança, que tinha um cheiro azedo dos infernos e eu desconfiava que era porque a velha nunca limpava a geladeira. “Dois cachorros grandes, vira-latas, vieram correndo na minha direção, latindo, ameaçadoramente. “- Xuxa. Hulk. Quietos! – disse o cara. Mas os cachorros, como eram vira-latas, não obedeceram. – Desculpe, amigo, vou prendê-los nas correntes. “- Vou ficar esperando aqui. Se eu suspeitar de algo, pode dar adeus à sua vida. “-Ah, meu Deus... – o cara balbuciou. Estava realmente apavorado. “Ele voltou com as mãos meio para cima, como se eu estivesse apontando uma arma para ele e eu só estava encostado na parede. “- Entre em casa. – ordenei, sem desviar os olhos dele. – E olhe para mim, quando eu falar com você. “Ele entrou em casa. “- Senta aí. Quando chega sua mulher? “- A qualquer momento. Escuta, amigo, não faça nada com minha família. “- Isso vai depender de você. E de sua capacidade de convencer sua família a se comportar direitinho. Jogue os celulares para cá. “-Como sabe que tenho dois celulares? “- Eu vi no seu bolso. “- É um celular e um rádio. “- Desconfiei. Joga pra cá. “Desliguei o rádio Nextel. Com o celular, liguei qualquer número e falei, fingindo: ‘Mantenham suas posições. Está tudo sob controle, por enquanto, dependendo do nosso amigo’. – Eu não tirava os olhos dos dele de nenhuma maneira. “Então chegou a hora de me comportar como maluco para o cara ficar ainda com mais medo de mim. “- Escuta aqui, vou contar uma história. Vamos para a cozinha. Senta aí nessa cadeira e não se mexa. “Fomos para a cozinha. Peguei uma faca bem grande. Nada assusta mais que uma faca. Faca assusta mais que revólver. Para ficar mais assustador, peguei um amolador, numa gaveta e dei uma amolada na faca. Deixei-a sobre a mesa. Abri a geladeira e percebi que havia várias garrafas de cerveja. Peguei uma, coloquei sobre a mesa, joguei um abridor e coloquei dois copos. “- Abra e sirva. Você está muito nervoso. “Então, comecei minha maluquice. “- Já ouviu falar dos cavaleiros Rancum? “- Como é que é? “- Eles são mais poderosos que os cavaleiros Jedi. São imortais. Não podem ser feridos. Só surgem em ocasiões muito especiais, quando os seres supra-racionais, como os Jedi, estão em perigo de extinção, juntamente com a espécie humana e aliados. “Agora, o golpe final, para o cara ter certeza que eu era louco. Peguei a faca, furei o canto direito inferior de minha mão e deixei escorrer sangue. O cara ficou arrepiado. Mostrei minha mão sangrenta para ele e disse: ‘Eu me comunico com eles por aqui’. Tive vontade de dar risada, mas me controlei. Peguei um pano de prato e enrolei na mão. Nesse momento, Edinilton sentiu algo em seu bolso esquerdo traseiro. Tirou os papéis dobrados e abriu. - Ah, Overman, veja isto: eu escrevi no metrô. Acordei pensando nesta história hoje. Entregou os papéis a Overman, que os dobrou novamente e disse que iria ler depois. - Não, leia agora, Overman. Você vai gostar. - Ok... falou Overman, bêbado e entediado e começou a ler uma história. “O homem que recebeu a encomenda de matar outro que tinha um escritório na Avenida Tiradentes, mas chegou muito cedo e ficou num hotel comendo pizzas e prostitutas. Por Edinilton X.” - Edinilton, por que essa mania de contar o plot da história no título? - Sei lá, acho que é para chamar a atenção dos leitores. Continua lendo. Eu gostei da sua entonação enrolada de bêbado. Overman continuou. “Jestrez Raul Gumexland chegou à rodoviária do Jabaquara às 23h em ponto, conforme o motorista do ônibus havia lhe prometido. Vinha de Cidade Ocean. Ele adorava aquela cidade. Havia nascido e crescido ali e não saberia viver em outro lugar. Sua única tristeza era não poder sentir o aroma maravilhoso que vem do mar. Só sentia muito raramente, quando, por algum motivo, tinha que passar muitos dias fora de Cidade Ocean. Quando voltava a seu magnífico lar, podia sentir por alguns instantes, o inebriante aroma celestial de uma cidade praiana. Como também sentia o cheiro de monóxido de carbono, ao entrar em São Paulo. Sua cabeça doía, seu estômago embrulhava, era preciso entrar em alguma padaria, tomar uma água, um café, comer um misto quente, desde que o balconista não desatasse a conversar. Uma vez, ele cometeu o erro de entrar no banheiro da estação Jabaquara, para lavar o rosto, mas ao sentir aquele cheiro maldito que têm os banheiros públicos, vomitou imediatamente. Jestrez Raul Gumexland pensava em aposentar-se um dia. Não sabia como. Não tinha nenhum registro em carteira, nunca havia pago INSS. Talvez, aposentasse-se trabalhando, montando um serviço de qualquer coisa, em Cidade Ocean, ou talvez comprando imóveis e alugando. Jestrez Raul Gumexland matava 2 ou 3 pessoas por ano. R$ 15.000,00 era seu preço. Não importasse quem fosse. Dono de farmácia ou prefeito. Tabela única. R$ 15.000,00. Com esse dinheiro, vivia tranquilamente, em sua casa de dois cômodos e um banheiro, na Cidade Ocean. De vez em quando, sua namorada, a cabeleireira Deleuze aparecia para fazer sexo. Deleuze, uma separada de 48 anos, gostosa que só ela, era doida pelo pauzão de Jestrez Raul Gumexland. Que não tinha só um pauzão, mas sabia usá-lo. Deleuze nunca entendeu o apelido que Jestrez Raul Gumexland havia dado a ela: “Minha filósofa”. Assim que ela batia na porta [porque Jestrez Raul Gumexland nunca havia dado cópia de chave para ela, nem para mulher nenhuma], Jestrez Raul Gumexland cumprimentava: “Boa noite, minha filósofa”. Mesmo que fosse dia, ele sempre dizia “Boa noite” para qualquer pessoa e nem ele mesmo entendia o porquê. O portão do quintal ficava sempre aberto. Primeiro porque seus três rottweilers devorariam sem dó qualquer pessoa que ameaçasse entrar ali. Segundo porque Jestrez Raul Gumexland tinha seis revólveres, até mesmo uma Beretta 9 milímetros que ele comprou de um policial amigo dele, que a havia apreendido de um traficante. Suas execuções eram sempre feitas com revólveres calibre 38, contrabandeados, que jogava em algum rio ou lagoa ou algo parecido. Quando contratado pelo Tatu [nome do contato dele, que recebia a encomenda de algum de seus contatos espalhados pelo Brasil, contatos feitos quando ele esteve preso no velho Carandiru], visitava seu fornecedor, no Porto de Santos, e comprava um revólver de origem incerta. Talvez chinês. Jestrez Raul Gumexland testava o revólver no fundo do quintal. Não poderia comprar uma porcaria que o fizesse errar o tiro. Mesmo assim, levava para casa, desmontava, dava um talento no bicho e o deixava nos trinques. Jestrez Raul Gumexland aprendeu a atirar com seu pai, um marinheiro holandês-flamengo chamado Hugues Gumexland, que tratava a sua família no Brasil com o maior carinho do mundo. Jestrez Raul Gumexland tinha saudades de sua irmã Maria Vitória Gumexland e de sua mãe, já falecida, Emília Ravina. Maria Vitória Gumexland estava perdida pelo mundo, vivendo em algum lugar da Europa. Talvez um dia se reencontrassem. Quanto aos rottweilers, tudo começou quando ele encontrou um filhote machucado perto da Rodovia Pedro Taques. Quem teria deixado o coitado ali? Levou-o para casa e cuidou dele. Quando ele cresceu, Jestrez Raul Gumexland comprou uma fêmea, que teve oito filhotes. Ele ficou só com um e vendeu os outros. Foi fácil vender os filhotes, porque filhote de rottweiler é a coisa mais fofinha do mundo, até crescer e se transformar num satanás. Seus rottweilers se chamavam Alemão, Vera Fischer e Trovoada. Todos castrados, mas ainda matadores. “Na Estação Jabaquara, foi à bilheteria e comprou duas passagens. Guardou uma no bolso. Quem sabe Marlonzão estivesse ainda no escritório dele, na Avenida Tiradentes. Segundo lhe informaram, trabalhava até muito tarde, muitas vezes até de madrugada. Quando não dormia lá mesmo e continuava no dia seguinte. Edson Marlonzão era agiota da pior espécie. Ele emprestava dinheiro e passava a vida cobrando o mesmo dinheiro da pessoa a quem havia emprestado, fazendo aquelas ameaças veladas que amedrontam a todos. ‘Você não tem amor a sua família? Não quer ver seus filhos crescerem?’ Para emprestar dinheiro, Marlonzão pedia todo tipo de informação a seus clientes, incluindo os nomes de vários familiares e amigos, pessoas a quem ele pudesse procurar, caso o cliente não pagasse a grana. Se tivesse origem em outro estado, ele não emprestava dinheiro, a não ser que a pessoa arranjasse todo tipo de fiador. Se já havia matado alguém, não se sabe. Havia aterrorizado a muitos. Mas quem iria morrer agora era ele. Marlonzão emprestava dinheiro para políticos, comerciantes, pessoas enroladas até o pescoço de todo tipo. Ali no Centro de São Paulo, estava cheio destes tipos. Segundo informaram a Jestrez Raul Gumexland, deveria descer na Estação São Bento. Jestrez Raul Gumexland sabia que matar pilantra era a coisa mais fácil do mundo. O pilantra é arrogante, megalomaníaco, acha que é imortal. Anda sem segurança, deixando no máximo um cano na gaveta e um embaixo do banco do carro. Não anda com segurança para não ter que gastar dinheiro. Um vagabundo como Marlonzão era capaz de comer em restaurante por quilo, reclamando do preço, ou levar marmita de casa. Jestrez Raul Gumexland estava só com o .38, mas sabia que seria mais seguro levar logo uma .50 com 16 balas. Ou uma sub-metralhadora. Mas isto é armamento de nóia menor de idade, não de assassino profissional. Os menores gostam de se exibir, dizer que assaltaram um banco com uma Uzi ou com uma AR 15 ou com dinamites. Jestrez Raul Gumexland já tinha visto reportagem de nóias tentando arrombar um portão de empresa de segurança com um míssil, o que era a coisa mais risível do mundo. “Então Jestrez Raul Gumexland chegou à Estação São Bento às 23h20m. Nem fazia idéia de onde descer, porque a São Bento tem várias e confusas saídas, até mesmo saídas que não saem em lugar nenhum e fazem o passageiro voltar para o mesmo lugar. Um labirinto. O arquiteto da Estação São Bento havia sido um verdadeiro gênio. Na primeira tentativa, Jestrez Raul Gumexland saiu na Rua Boa Vista. Voltou para a Estação e saiu no Mosteiro São Bento. Retornou mais uma vez e saiu debaixo do magnífico Viaduto Santa Ifigênia, um lindo viaduto que há em São Paulo, terra de poucos pontos turísticos. Mas Jestrez Raul Gumexland ficou admirando-o. Era uma obra realmente linda. Os prédios ao redor e as pessoas abaixo estragavam a vista. Gente andando enroladas em cobertores, em pleno mês de janeiro. Gente vendendo bebidas alcoólicas e salgadinhos nos pontos de ônibus da Praça do Correio. E ao redor, os edifícios mais ridículos de São Paulo. Um deles era o edifício onde Marlonzão tinha seu escritório. Jestrez Raul Gumexland lamentou-se não trazer explosivos C4 para demolir o prédio todo. Era um prédio antigo, com cinco andares, sem qualquer conservação. Provavelmente, era o edifício mais ridículo de São Paulo. Como uma pessoa poderia trabalhar ali dentro não ter vontade de dar um tiro na própria cabeça? Jestrez Raul Gumexland procurou câmeras de segurança. Havia uma na frente do túnel Anhangabaú, bem à frente do prédio. Já tinha sido filmado por câmeras várias vezes, bastava ficar de costas para elas. Definitivamente, não havia ninguém naquele prédio. O que ele poderia fazer? Esperto como sempre, Jestrez Raul Gumexland percebeu a aproximação de três nóias. ‘Aí, tio...’, começaram. Jestrez Raul Gumexland apenas levantou a camisa, mostrando o cano do revólver. Os garotos viraram poeira. Correram na direção contrário feito loucos. ‘O que eu vou fazer até amanhã?’, pensou. Já tinha vivido situações semelhantes. Talvez, achar um puteiro, uma espelunca qualquer. Caminhou na direção do Vale do Anhangabaú, atravessou para o outro lado, passando por um caminhão da Polícia Militar onde três policiais faziam supostamente a segurança do Vale, embora Jestrez Raul Gumexland quase havia acabado de ser assaltado. Avistou uns hoteizinhos vagabundos, destes que é só para foder. Parou à frente de um orelhão e gravou alguns nomes de putas no seu celular, escrevendo apenas ‘Puta’ a frente de todos os números. Entrou num hotel. “- Boa noite. O senhor me dê a melhor suíte, por favor. “O recepcionista pegou uma chave e pediu um documento. “- Oh, meu querido, eu esqueci meus documentos. Pode quebrar um galho para mim? “E, ao falar isto, deu cem reais de gorjeta para o recepcionista, que meteu no bolso. “-Tem o telefone de alguma pizzaria 24/h? – perguntou Jestrez Raul Gumexland. “O recepcionista pegou um folheto e entregou a Jestrez Raul Gumexland. “- Vou receber umas visitas daqui a pouco, disse. Não tem problema? “- Fique à vontade, senhor. “Jestrez Raul Gumexland entrou no elevador, que já estava parado ali. Era um hotel muito bem cuidado, como é comum na cidade de São Paulo. Hotéis vagabundos pelo Brasil costumam ser totalmente podres. Hotéis de supostamente 3, 4 estrelas não valem porra nenhuma. Os paulistanos entendem bem deste negócio de hotel. Jestrez Raul Gumexland desceu no último andar e entrou na suíte 707. Gostou deste número. “Jestrez já tinha em mente o que iria fazer com a primeira prostituta. Iria obrigá-la a declamar um poema. Qualquer poema. Nem que tivesse que inventar um. “Olhou o quarto à volta. Sentou-se na cama e tirou os sapatos. Ele gostava de seus sapatos. Tinha cerca de dez pares, todos pretos, muito bem engraxados. Era um de seus passatempos prediletos. Engraxar os sapatos. Tinha vontade de comprar mais sapatos para poder engraxar mais sapatos. Levou um dos pés ao nariz e admirou sua capacidade de não ter chulé. Eram pés privilegiados. Ouviu falar que o motivo era que passava a maior parte do tempo descalço, na sua querida Cidade Ocean. Quem usa sapatos por mais tempo tem mais chulé. Permaneceu de meias. Ligou a TV, já deitado na cama, com dois travesseiros e trocou de canais. Canais a cabo. Uma invenção inteligente. Achou um canal em que travestis faziam sexo. Cada um deles tinha um pau com mais de 25 cm e enfiavam nas bundas uns dos outros. Jestrez Cruz Gumexland deu risada. “Retirou o cinto, enrolou-o e depositou sobre a cabeceira à esquerda. Tirou o .38 chinês das costas e escondeu-o sobre o colchão. Pegou o celular no bolso e telefonou para a ‘Puta’. Uma das. Havia várias ‘Putas’ anotadas no seu celular. “-Alô? – ela disse. “- Estou no Hotel Mirante do Vale, quarto 707. Pode vir aqui? “-Você paga o táxi, querido? “-Sim. “-Minha taxa é 70 reais. “-Ok. “-Não faço anal. “-Ok. “- Logo chego aí. Qual é o seu nome? “- José. “-Um beijo e até já. “Como seria esta puta? Uma monstrenga com marca de cesariana na barriga? 70 reais era uma miséria. Puta razoável cobra 250 reais pelo programa. E são cheirosas. Esta já devia estar mergulhada em porra deste 13h. As putas no centro de São Paulo trabalham já a partir da hora do almoço. Uma merda. Que tem de corno querendo comer puta em São Paulo. Comer puta vicia. O sujeito come puta, depois não quer faz idéia de tentar comer uma não-puta, porque nem sabe conversar com mulher nenhuma. “Agora, restava pedir a pizza. A puta chegou rápido, enquanto Jestrez Cruz Gumexland estava ainda dividindo as pizzas. Meia isto meia aquilo, etc. O que será que a puta gostaria de beber? Pediu um segundo ao atendente da pizzaria e foi abrir a porta. Para sua surpresa, era uma loiraça de quase 1,80m. E só cobrava 70 reais? Ela deu um beijinho nele e já foi tirando a roupa. Também pediu, carinhosamente, para que Jestrez Cruz Gumexland adiantasse o pagamento. “-Você já tem mais compromissos hoje? – perguntou Jestrez Cruz Gumexland. “-Sempre tenho, amor. “-Quero sua companhia até 5h da manhã. “- Hummmm... que bom... faço 200 reais pra você, lindão. “-Estou pedindo pizza. Você gostaria de beber o que? “-Hummmmmm... que bom... ainda vai ter pizza e tudo. Pede cerveja, amor. “-Jestrez Cruz Gumexland voltou ao telefone e informou ao rapaz que deveria lhe mandar umas quatro caixas de cerveja boa, Bohemia, algo assim. “-Pode ser Sol? “-É importada do México? “-Não senhor, mas a Sol brasileira é melhor que a mexicana. “-Impossível. “-É química, senhor. A brasileira é mais recente. A mexicana vai demorar mais tempo para chegar, portando há a chance de oxidar e o senhor ser contaminado por botulismo. “-Você é um atendente de pizzaria muito inteligente. Tem futuro. Manda quatro caixas de Sol brasileira. “Desligou o telefone. “-Tecate também é boa. – disse a puta, já de calcinha, apenas de calcinha, deitada na cama. Jestrez Cruz Gumexland ficou de pau duro. “-Que pauzão, amor. Qual seu nome mesmo? “-João. “Ele não se lembrava qual nome havia dado pela primeira vez. “-Enfia esse pauzão em mim, João. Mas me paga antes. “Jestrez Cruz Gumexland pegou 200 na sua carteira e deu a ela, que guardou na sua pequena bolsa cor-de-rosa com umas pedrinhas brilhantes. Ele percebeu que ela estava com cocaína na bolsa. Toda puta cheira cocaína. Ele nunca tinha cheirado cocaína. “-Esse negócio de cocaína é bom? – perguntou. “-Eu adoro. Quero experimentar, amor? “-Faz favor. “E Jestrez Cruz Gumexland cheirou cocaína pela primeira na vida. Gostou. A puta também cheirou, naturalmente, e ficou doida. Baixou as calças e cuecas de Jestrez Cruz Gumexland e enfiou o pau de 26 cm inteiro dele na boca. Enfiou até o saco. Como é que cabia tanto pau dentro de uma boca? Será que a garota tinha outro emprego, outra atividade? Era estudante, talvez? Ou trabalhava como agente carcerária? Essa seria boa. “Mas como chupava bem essa puta. Sabia sugar e passar a língua em volta do pau todo, ao mesmo tempo. Deleuze teria que aprender isto. Deleuze ou sugava ou passava a língua, nunca as duas coisas ao mesmo tempo. E como se a puta percebesse que Jestrez Raul Gumexland estava começando a gozar, afinal seus testículos estavam pulando e sua respiração mais ofegante e seus batimentos cardíacos mais acelerados, a puta, com suas mãos extremamente macias passou a masturbá-lo. Com as duas mãos mesmo, enquanto mamava a cabeça do pau como um bebezinho faminto tomando leite na teta da mãe. “Jestrez Raul Gumexland chegou a pensar que ela iria engolir a porra toda, mas assim que começou a expelir porra, a puta fez com que ele gozasse em sua cara toda e em seus seios. Depois engoliu o pau dele de novo, para arrancar mais um restinho de tesão e porra, enquanto com a outra mão, cravava as unhas nos glúteos de Jestrez Raul Gumexland. E aquela puta só cobrava 70 reais mesmo? Impossível! “- Quantos caras já te pediram em casamento, Aline? “- Eu não me chamou Aline. “- Como se chama? “- Carla Estudante de Direito. Você não viu no meu anúncio? “-Desculpa, eu esqueci. Você estuda direito mesmo? “-Já estou no doutorado. “-E por que você trabalha como garota de programa? “- Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Todos os meus amigos advogados e estudantes de direito transam com garotas de programa. Então eu resolvi ser uma. “-Estuda na FMU? “-Você está me chamando de retardada? Estudo no Largo São Francisco. Mas eu fiz mestrado na Universidade de Brasília, porque eu consegui um estágio no STF. Aliás, foi lá que eu entrei nesta atividade. “- É verdade que todos os políticos saem com garotas de programa? “-Todos os homens de qualquer profissão, de pedreiro a rei, transam com garotas de programa. E há garotas de programa de todas as profissões também. De órfã nóia que mora na rua até princesas européias. “-Quanto custa uma trepada com uma princesa européia? “-Mais de um milhão de euros. E têm clientes todas as semanas. Em Brasília, a gente chama de Diamond File. Ou seja, Ficha Diamante. “-Ah, porque tem as Ficha Rosa. “-Ficha Rosa é recepcionista de evento meia boca. As modelos internacionais, atrizes de TV, a gente chama de Golden File. Ficha de Ouro. “-E atriz de Hollywood? “-São do grupo das Diamond File. Um milhão de euros ou dois milhões de dólares por uma trepada. “-E os caras? Atores, gente famosa? “-Depende. Mulher gosta de bombeiro. Cobram 30, 40 reais, às vezes não cobram nada, se a mina é gata. Se for trepar com homem, é 500 paus. Passivo é 20 mil, 30 mil. Ou em troca de um carro. Ator de TV pra trepar com debutante é 15 mil reais, em média. Os próprios pais das minas que pagam. Mas obviamente nem todo mundo faz programa. Consegue imaginar o Tony Ramos fazendo programa? “Jestres Raul Gumexland deitou na cama e começou a rir e não parou mais. E ainda pediu para cheirar mais cocaína. Riu por bem uma meia hora sem parar, até quando foi buscar as pizzas e cerveja na porta da suíte. “- Ei, linda, gosta de transar a três? Eu, você e mais uma garota? “-Adoro de paixão. “- Telefone para uma bem gata, que você sempre tenha tido vontade de transar, mas não ela não quis até hoje. Vou obrigá-la a foder com você e comigo. “Aline gostou. Pegou o celular e chamou uma amiga dela, avisando que ela cobrava mais caro, 85 reais por hora só o básico. Anal e beijo na boca era mais caro. “ – Puta dá beijo na boca? Desculpa usar a palavra “puta”. “- Prefiro garota de programa. – disse, languidamente, fingindo uma timidez. “- Só vou falar garota de programa, então. “-Dá beijo na boca sim, mas é bem caro. “- Por que? “-Beijo na boca apaixona. Garota de programa não quer se apaixonar por cliente. “-As meninas não vão para a balada e dão beijo em 45 rapazes numa noite só. “-Mas é diferente. “-Por que? “-Por que são meninos que elas nunca viram nem vão ver, então os clientes representam os pais delas. “-Eu sou a representação do seu pai? “-Sim. “- Quando você transa com cliente, pensa no seu pai? “-Não, se eu pensar no meu pai, eu gozo na hora. “-Ei, fala para sua amiga trazer maconha. Maconha de qualidade, não bosta de cavalo. “- Você quer skunk ou hash? “-Que é isso? “-Maconha mais forte. “-Traz tudo. Vou usar todas as drogas esta noite. “-Não vai morrer de enfarte, amor. “- Vou morrer nada. Já me fizeram beber um litro de creolina e eu sobrevivi. “-Quem te obrigou a beber um litro de creolina? “-Já fui seqüestrado por um louco satanás que se dizia bruxo. Quase o cara me sacrificou pro diabo. Meu pai me achou e matou o cara. “-Nossa! É sério isto? “-É. Eu nem lembrava mais desta história. Esta farinha doida que me lembrou disto. “E caiu na gargalhada outra vez. Lembrou-se que havia determinado que a primeira puta iria declamar um poema. Mas como a mina era uma advogada, já imaginou que ela soubesse vários poemas de cor e salteado ou talvez tivesse escrito seus próprios. E para sua surpresa, não apenas a garota sabia um poema. Ela já havia interpretado na escola o ‘Navio Negreiro’ de Castro Alves e disse que iria interpretá-lo ali, sobre a cama. Antes, Jestrez Raul Gumexland, ou José, ou João, disse: “-Já estou loucão pra lá de Bangladesh. Não estou mais ansioso. Quero viver loucão 24h/dia. Minha vida depende disto. Salve a loucuridade, afinal Deus a criou num de seus dias de criação do mundo. Já pensando que o homem não deveria fumar do arbusto da vida, para não ser como ele. “Neste momento, a outra puta chegou. Usava calça jeans e uma espécie de camisa de seda vermelha com um decote enorme sem sutiã. Morena mesmo. Pele escura. Cabelos longos, até a cintura. Sotaque mineiro. Era a mulher mais linda que Jestrez Raul já tinha visto. E olha que ele estava completamente loucão. “-Qual seu nome, bonecona? “-‘Bonecona?’ Eu sou mulher, querido. “-Não foi isto que quis dizer. Quis só te elogiar. “Ela viu a outra puta, na cama, totalmente nua e gostou. “-Que tesão de mulher! – disse a morena, referindo-se a Aline. “-José, esta é minha amiga Flavinha. Ela não é uma deusa? “-Totalmente. Então, Flavinha, quer comer, beber, cheirar ou fumar alguma coisa? “-Vocês pediram para eu trazer skunk e hash, lembram? “- Com certeza. Mas antes... eu tive uma idéia. Aline, você pode tirar a roupa da Flavinha para eu ver. Será o primeiro strip tease ativo da história. “Foi o que elas fizeram e terminaram se beijando na boca, com muita paixão e depois se olharam nos olhos com mais paixão ainda. “-Vocês sempre quiseram fazer isto, não é mesmo? – deduziu Jestrez Raul Gumexland, deitado na cama, contemplando as xoxotas depiladas das garotas. A da morena era muito mais bonita. Loira com boceta raspada não é lá estas coisas. Morena é melhor. – Jestrez Raul Gumexland continuou: - Flavinha, faz um favor, enquanto Aline prepara o skunk e o hash? Declama um poema para mim? “-Um poema? Meus clientes já pediram até para comer minha bosta, é a primeira vez que alguém pede um poema. Eu só sei um, mais ou menos. “-Manda brasa. – ordenou Jestrez Raul Gumexland. “-Devo misturar o skunk com o hash? – perguntou Aline. “-Meu amor, mistura skunk, hash, cocaína e ainda liga na recepção e pede uma garrafa de vodka importada. Aquela Absolut é boa. “E Flavinha declamou, com seu sotaque misto: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!... São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . . São mulheres desgraçadas, Como Agar o foi também. Que sedentas, alquebradas, De longe... bem longe vêm... Trazendo com tíbios passos, Filhos e algemas nos braços, N'alma — lágrimas e fel... Como Agar sofrendo tanto, Que nem o leite de pranto Têm que dar para Ismael. Lá nas areias infindas, Das palmeiras no país, Nasceram crianças lindas, Viveram moças gentis... Passa um dia a caravana, Quando a virgem na cabana Cisma da noite nos véus ... ... Adeus, ó choça do monte, ... Adeus, palmeiras da fonte!... ... Adeus, amores... adeus!... Depois, o areal extenso... Depois, o oceano de pó. Depois no horizonte imenso Desertos... desertos só... E a fome, o cansaço, a sede... Ai! quanto infeliz que cede, E cai p'ra não mais s'erguer!... Vaga um lugar na cadeia, Mas o chacal sobre a areia Acha um corpo que roer. Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d'amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar... Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm'lo de maldade, Nem são livres p'ra morrer. . Prende-os a mesma corrente — Férrea, lúgubre serpente — Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Dança a lúgubre coorte Ao som do açoute... Irrisão!... Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!... Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...” “- Gostou? – perguntou Flavinha. “- José, você imaginaria que existiria uma garota de programa que declamasse Castro Alves? – perguntou Aline, aproximando-se com a bomba que ela havia preparado. “Jestrez Raul Gumexland colocou a bomba na boca e acendeu. Deu uma profunda baforada, tossiu bastante e comentou: “-Essa noite não vai terminar. “Jestrez Raul Gumexland estava se sentindo um verdadeiro Deus. Fodendo duas putas gostosíssimas, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Tirava o pauzão do cu de uma, enfiava na boceta da outra e por aí a noite continuava. “Mas ele queria mais. “-Meninas, agora chamem um travesti e um garoto de programa. E mandem comprar heroína. “Onde iriam achar heroína em São Paulo? Não há heroína no Brasil. A solução foi tentar comprar morfina mesmo, o que já daria para quebrar o galho. Morfina poderia ser adquirida em qualquer hospital, bastando dar uma grana para o segurança. Lá dentro, ele fala com um enfermeiro, que desvia algumas ampolas e vende para qualquer pessoa. Existia um esquema para deixar a morfina mais forte, parecida com heroína, mas ninguém sabia como. Porém, há um troço chamado speedball, que é quando de mistura heroína com cocaína. Ali, iriam fazer um powerball, misturando skunk, hash, cocaína e morfina. E Jestrez Raul Gumexland ainda preparava muitas surpresas para aquela noite louca. E também sentiu mais fome, mas desta vez, pediu sushi e yakisoba. “Eram 3 horas da manhã. Quando o travesti e o garoto de programa chegaram, Jestrez Raul Gumexland estava cagando. E cagando bem cagado. “Saiu do banheiro, deu o dinheiro para o entregador de comida, para o traveco e para o garoto de programa e sentou-se numa poltrona, para tomar uma dose de vodka Absolut bem gelada. “-Fodam aí entre vocês. – pediu Jestrez Raul Gumexland. “-Você vai dormir, querido? – perguntou Aline? “-Dormir? Nada. Estou mais acordado do que nunca. Estou completamente nas nuvens e vendo tudo absolutamente colorido e brilhante, mas estou bem acordado. “O garoto de programa comeu o rabo do travesti, que comeu Aline, que chupou a boceta da outra puta, depois revezaram-se. No final, para a surpresa de Jestrez Raul Gumexland, o garoto de programa bateu a punheta do travesti, a pedido dele, que gozou um litro de porra. Parecia um chafariz de porra. Jestrez Raul Gumexland só havia gozado daquele jeito quando jovem, lá pelos 19, 20 anos. Ele comentou isto para o travesti, que respondeu que tinha 19 anos. “-E desde quando você é travesti? “-Amador, desde que nasci. Profissional, desde os 10 anos. “-Eu também faço programa desde os 10 anos. – disse o garoto. “-Pessoal, eu agradeço a presença de vocês, mas agora quero ficar sozinho com Aline. Quero passar o restante da noite com ela. “Os convivas se recompuseram, colocaram a roupa de volta e já iam saindo, quando Jestrez Raul Gumexland solicitou: “ – Alguém sabe quem vende LSD? “O garoto de programa disse que conseguiria ácido e ecstasy. “-Traz ácido e ecstasy para mim. – pediu Jestrez Raul Gumexland. “-José, você vai ter um ataque cardíaco esta noite. – preocupou-se Aline. “-Eu? Vou nada. Eu sou pior que Satanás. “Às 4h da manhã, o garoto de programa apareceu com o LSD e com o ecstasy. Jestrez Raul Gumexland pagou e já ia fechando a porta, quando o garoto de programa o interrompeu: “-Cara, desculpa perguntar... mas você se importa se eu chupar o seu pau? “-Rapaz, eu já estou tão louco que só de você falar isto, meu pau já ficou duro. Quando custa? “-Cortesia. “Ali mesmo, no corredor do hotel, o garoto de programa, que não passaria por homossexual em lugar nenhum, muito pelo contrário, tirou o pau de Jestrez Raul Gumexland e o chupou desesperadamente. Jestrez meteu dois ácidos na boca e três ecstasies. Alguns minutos depois, olhou para baixo e viu a pequena atriz-mirim Maísa Silva, aquela que aparece no Silvio Santos, chupando seu pau. Jestrez Raul Gumexland ejaculou dentro da boca do garoto de programa, mas na sua cabeça, ele havia ejaculado na porta da suíte à frente. E sua porra começou a derreter o prédio. As paredes caiam, os outros hóspedes voavam em direção ao solo. E tudo isto era provocado por seu sêmen. “Então sentiu uma mão chacoalhando seu ombro. Aline. “José, você está parado aí há 15 minutos. O garoto já foi embora faz tempo. “Com a voz totalmente enrolada, Jestrez Raul Gumexland falou para Aline: “-Você toma café da manhã comigo? Eu vou te dar mais uma grana para você ficar mais um pouco comigo. Você mudou minha vida, Aline”. “Jestrez Raul Gumexland levantou o colchão e pegou seu revólver. Obviamente, Aline assustou-se: “-José! O que é isto? “- Um revólver vagabundo chinês, da marca Tokarev, eu acho. “Ele guardou o revólver na parte de trás de sua calça – que ele não havia tirado a noite inteirinha, apesar da quantidade incalculável de vezes que havia trepado – e foi ao banheiro se aprumar. “- Volto em um segundo. – murmurou ainda enrolado, para o olhar assustado de Aline. Completou: - Não se preocupe que quando eu voltar, não estarei mais com o Tokarev de merda. “Quando fechava a porta da suíte, repetiu: “-Aline, você mudou minha vida. “Desceu, achou uma vendedora ambulante de café e tomou um duplo. Pagou e disse: “-Aline mudou minha vida. “-Viva Aline. – comentou a vendedora. “-Jestrez Raul Gumexland caminhou em direção ao prédio podre do canalha que iria matar. “Sentou-se sobre um vaso de plantas ornamental e acompanhou os faróis dos carros. Estava amanhecendo. Com um pequeno esforço, pois era experiente, conseguiu ficar sóbrio. “E lá veio a vítima, totalmente despreocupado, como é comum aos filhos da puta que se acham deuses. “Jestrez Raul Gumexland levantou-se do vaso, caminhou em direção ao sujeito e descarregou seu revólver sobre ele, que não chegou a ver a cara do Matador Profissional da Cidade Ocean. “-Deus sabe o quanto eu gosto deste trabalho. – pensou. “Atravessou a Avenida Tiradentes correndo, jogou o revólver num bueiro e caminhou em direção à estação do metrô. “Enfim, dormiu feito pedra, até ser acordado por um segurança do metrô. “-Amigo, Estação Jabaquara. Vai descer aqui? “-Rapaz, muito obrigado por me acordar. “Ele já tinha o bilhete de volta para o ônibus que o levaria a sua querida Cidade Ocean, que sairia 7h30m. Entrou com uma garrafa de dois litros d’água, que havia comprado na estação. Nunca sentira tanta sede na vida. “Quando o ônibus entrou na Rodovia dos Imigrantes, Jestrez Raul Gumexland bateu a mão na testa e exclamou: “-Puta que pariu, esqueci da Aline!” - Edinilton, esta história é do caralho, gostei muito. - Gostou mesmo? - Porra, mano, vá escrever bem assim na puta que pariu. - Agora quem vai pegar umas putas somos nós. Jequié, passa a régua. Jequié trouxe a conta e Edinilton X lhe deu 100 reais de caixinha. Jequié ainda voltou com duas doses de Black Label extras para a dupla, como cortesia. - Vamos agora subir a Augusta. – sugeriu Overman. – E você termina de contar a história do Rio de Janeiro. Na Augusta, começaram a ver as maravilhosas garotas de programa que passavam frio, fome e fisso de drogas na famosa rua paulistana, a única rua paulistana que ganhou música elogiosa. Porque “Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João” do Caetano Veloso não é uma música elogiosa, muito pelo contrário, embora os paulistanos idiotas pensem que é. Há também outros sambas de Adoniram Barbosa, que falam de Jaçanã ou Brás, mas Adoniram meteu estes nomes só para acertar a rima. Paulista mesmo nunca faria música em homenagem a São Paulo, sarcástico por natureza. Se escrever sobre a própria cidade é para tirar sarro. - E o carioca, Edinilton, como terminou o seqüestro? - Ah, sim, eu mostrei minha mão furada e sangrando para o cara e disse que conversava com os cavaleiros Rancum, através dela. Eu estava pensando: já pensou se um cara acha que vai morrer e escreve uma carta contando tudo e mais um pouco, falando que deu o pau para sobrinha de 4 anos chupar, que já deu o cu para um garoto de programa só para ver como era, que já matou uma pessoa atropelada e a jogou no rio. Aí o cara sobrevive. Estaria fodido. Iria preferir estar morto. - Ah história do Rio de Janeiro, pelo amor de Deus, Edinilton. - Agora prometo contar até o fim. - Não confio em você. Pois preste atenção. Quer comer um cachorro quente antes? - Enquanto comemos o cachorro quente, você conta a história. - É o segundo melhor cachorro quente de São Paulo, só perde para o da Vila Madalena. - Fala sério, Edinilton, é tudo pão e salsicha. - Não, Overman, preparar comida é uma atividade metafísica. Por isto, possuem qualidades diferentes em cada bairro. Mas eu falava sobre os cavaleiros Rancum. “Guerra nas Estrelas começa assim... ‘Numa galáxia muito muito distante...’ Ora, o que George Lucas quis dizer com isto? A galáxia era quão distante? Num certo momento, a galáxia, ao aproximar-se dos confins do Universo, não tem mais vida alguma. Só há vida nas galáxias aqui das nossas imediações. Obviamente quando falo em nossas imediações, estou falando de um grupo de aproximadamente 500 milhões de anos-luz, mais ou menos. “Então minha história é assim: numa galáxia mais ou menos longínqua, chamada Espiral de Quéops, havia um grupo de estrelas chamado Constelação de Alexandria. “Depois que o Império do Bem, Império do Mal, Lado Branco da Força, Lado Negro da Força, já eram passado, porque o buraco negro super massivo no centro da Espiral de Quéops havia se transformado num buraco pálido, devido à perda de energia causada pela presença inesperada de outro buraco negro em seu horizonte de eventos, o que abriu um verdadeiro vazamento no buraco, o que ocasionou uma redução drástica nos poderes da Força e conseqüente decadência dos cavaleiros Jedi... - Está me dizendo que o poder dos cavaleiros Jedi era oriundo dos buracos negros? - Não, de um buraco-negro específico, o super massivo, que há no centro de todas as galáxias. “Obviamente os sacerdotes Jedi da Espiral de Quéops conseguiram obter alguma Força de outras galáxias, através dos buracos de minhoca, que não são nada mais do que intervalos quânticos entre as dimensões do Universo. “Todo sumo-sacerdote Jedi, como foi o Yoda, ganha uma corda com 13 nós. A cada vitória dos Jedis sobre algum inimigo que escolhe os Jedis como inimigos – e para entender isto, eu recomendo que leia ‘Mein Kampf’, de Adolf Hitler -, o sumo-sacerdote desata um nó. A Corda do Destino dos Jedis possuem oito nós desatados. Eles nem sabem quem desatou os primeiros nós, pois isto remete ao início dos tempos, quando o Universo foi criado. “Pois bem, chega um momento em que o Sumo-Sacerdote, que no caso da Espiral de Quéops chamava-se Brobdingnag – e não precisa me perguntar, é um nome das Viagens de Gulliver realmente, porque o pai dele era fã do livro – sente que o próximo nó está pesado, como se estivesse vivo, querendo dizer alguma coisa. Ele se preocupa. O nó está pesado demais e há Jedis de menos, com menos poderes do que os de antigamente. Seria a nona batalha dos Jedis, mas não o fim da raça, pois ainda haveria mais quatro batalhas pela frente, afinal a corda possui 13 nós. “Neste momento, um arqueólogo do planeta Silverberg recebe, em sua tenda, uma mensagem holográfica oriunda de Lautreamont, do outro lado da galáxia. Este arqueólogo, chamado Perez Cleómenes, um híbrido de humanos e árgios, portanto não muito bem vindo nas colônias humanas, devido a seu temperamento pouco acessível, era um jedi. Perez Cleómenes investigava civilizações que teriam vivido oito bilhões de anos atrás no monstruoso Silverberg, um planeta rochoso 26 vezes maior do que Júpiter. Um verdadeiro colosso no Universo, talvez o maior planeta rochoso que os humanos e seus amigos encontrariam em suas vidas. “Perez Cleómenes entrou em sua nave particular e dirigiu-se a Gunnlod, planeta cavernoso onde vivia a raça de Brobdingnag. “Normalmente, ninguém penetraria no campo de força de Gunnlod, mas sendo Perez Cleómenes jedi, teve livre acesso ao planeta e pousou próximo da entrada do complexo de cavernas onde vivia Brobdingnag. “Com seus instintos jedi, Perez Cleómenes localizou os aposentos de Brobdingnag, que já o esperava. “-Fez boa viagem, Cleómenes? “-Foda-se, Sumo-Sacerdote. Não vim aqui bater papo. Tenho uma mensagem de Lautreamont”. “Acionou o hológrafo e uma figura antropomórfica disse: ‘Fomos escravizados como animais. Pedimos ajuda aos membros da Federação, aos amigos ou a quem puder nos ajudar’”. “Brobdingnag levantou-se de seu trono, arrastando sua calda nojenta e retirou a corda de dentro de uma caixa metálica. “ –Este é o nono nó. “-Não temos nada a ver com Lautreamont, seu verme nojento. Deixe que morram. “-Então por que veio até mim, Perez Cleómenes? “-Porque sou um infeliz cavaleiro Jedi. “-Partamos para Lautreamont. “-Que merda do caralho. “No caminho, através de telepatia, Brobdingnag convocou os jedis da Espiral de Quéops. As 41 espaçonaves jedis chegaram a Lautreamont e foram recebidas com mísseis nucleares, explodidos no espaço pelos sistemas defensivos jedis. Mas as naves foram capturadas eletro-magneticamente e levadas ao inóspito interior de Lautreamont. Humanos e associados haviam colonizado Lautreamont cerca de 250 anos antes e agora estavam presos e acorrentados. “Enfrentando a ventania infernal de Lautreamont, Brobdingnag e outros jedis deixaram suas naves e observaram os seres que haviam capturado o planeta. Cada um deles, transparentes, com mais de 200 metros de altura cada. Todos eles portando quatro lanças. “- Sumo-Sacerdote Brobdingnag, quem são estas pessoas? – perguntou Sieglinde, sacerdotisa de Mileton. “-Não sei. Mas sei que é o fim de nossa comunidade. Veja isto: “Brobdingnag retirou sua corda do bolso e todos os nós haviam sido carbonizados. Os outros jedis também tocaram em suas cordas e perceberam que os nós haviam desaparecido, alguns transformados em cinzas. “Neste momento, a ventania tornou-se ainda maior. O céu tornou-se vermelho e relâmpagos explodiram por toda parte. Ninguém sabia o que estava acontecendo e mesmo os seres de 200 metros pareceram assustados e afastaram-se. “Então os jedis viram o que jamais acreditaram que existisse. “Cinco figuras com capas vermelhas desceram dos céus. Dois deles eram evidentemente humanos. Havia um egino de doze membros, de uma espécie dada como extinta há milhares de anos. Um outro ser disforme, brilhante, muito magro e com quatro metros de altura. Os jedis já os tinham visto. Eram nornons aquáticos, invertebrados, mas absurdamente inteligentes e poderosos. Não eram jedis, no entanto. E finalmente, um ser com aspecto de lobo, provavelmente mais um ser dado como extinto, da espécie dos ordros, talvez. Todos eles usavam as máscaras douradas típicas de uma entidade que ninguém jamais acreditou que existissem. Os lendários Cavaleiros Rancum. “Brobdingnag comentou para si: ‘Mesmo eu, que acredita em tudo, não acreditava na existência dos Cavaleiros Rancum.’ E comentou para os outros jedis e habitantes do planeta, a sua volta: ‘Amigos, tenho boas e más notícias. A boa notícia é que estamos salvos. A má notícia é que é o fim do mundo. O fim dos tempos, o fim do Universo. Porque os Cavaleiros Rancum surgem apenas quando o tempo chegou ao fim e tudo será destruído. Mas por que eles vieram, vocês devem se perguntar. Porque o fim não é o fim. O fim é só uma transformação”. “Um dos humanos levantou os dois sabres de luz [porque os Cavaleiros Rancum carregam um sabre em cada membro, inclusive nos pés, e girando completamente o corpo, afastou os gigantes de 200 metros com tanta violência que foi como uma explosão. Sem, no entanto, ferir os habitantes do planeta. “A outra humana, com o poder de sua mente, removeu de dentro da terra uma gigantesca prisão, com mais de dois quilômetros de comprimento. Ainda com o poder da mente, arrombou os portões e entrou, seguida dos outros Rancum. “O ordro fez um gesto com a mão direita, abrindo todos os dedos de uma vez e todas as correntes e grades da prisão vieram ao solo. Os prisioneiros foram todos libertados. Havia mais de cem espécies diferentes no local, oriundas de dezenas de planetas.” Edinilton X parou para vomitar, à porta de uma loja fechada. Depois, olhou para cima. Era uma loja de colchões e ele já tinha comprado um colchão ali, não se lembra por qual motivo, o que é bem estranho, porque um colchão não é algo que se compra sem se saber o motivo. Overman Cruz tirou o pau para fora e começou a mijar, morrendo de rir do vômito de Edinilton. - Como você consegue mijar e rir ao mesmo tempo? – perguntou Edinilton. - Eu sou profissional, cara. Edinilton viu uma mina morena, magra, com uma calcinha minúscula e cabelos lindos e grandes e muito bem cuidados, e sandálias douradas enormes, com salto agulha e usava esmalte branco nas mãos. - Overman, vamos entrar nesta boate. Eu quero esta morena. - Boate Getsemani. Que coisa de doido. Uma boate com nome de igreja. – comentou Overman. - Vamos ver o milagre que há lá dentro. Atravessaram a rua, foram cumprimentados pelo host e entraram na boate, lotada. Tocava techno, como se fosse a Love Story. Edinilton aproximou-se de Overman e disse: “Depois vamos na Love Story?” - Vá se foder, Edinilton, você está com bafo de vômito. - Opa, foi mal. Uma boate lotada, cheia de luzes, um monte de caras usando roupões brancos vagabundos, esperando algum milagre. E como sempre acontece, quando chega numa boate de putas, a mais feia vem falar com a gente. Edinilton estava justamente temendo isto. Como ele já estava pra lá de Teerã, como diria o Caetano Veloso – aliás, ele se lembrou que há tempos havia tomado nota mental da música “Qualquer Coisa” e aproveitou para ali mesmo no meio da balada baixar a música no seu celular -, só sorrio para a garota de programa, que de fato era muito, muito feia e disse que falaria com ela depois. Então, um milagre aconteceu. Edinilton viu uma garota que parecia morar em Higienópolis, isto é, tinha aquele perfil de pessoa diferenciada que mora em Higienópolis. Ele encostou num balcão à frente dela, que era azucrinada por um japonês que não a levava duma vez para o quartinho. O cara queria o que? Conversar? Que ligasse para o CVV. Ou se matasse. Um idiota a menos no mundo não faria a menor falta. Edinilton mexeu o dedo indicador, indicando que gostaria que a moça se aproximasse. - Oi, tudo bem? – perguntou ela, com aroma de licor de menta, dando dois beijinhos no rosto de Edinilton. - Sem mais delongas, mocinha, vamos ao que interessa. - Tá, deixa eu te contar quanto eu cobro. 300 reais e não faço anal. - Que coincidência, eu não faço anal também. E se fosse garoto de programa, eu também cobraria 300 reais. A mina morreu de rir e Edinilton ficou satisfeito. Não há nada melhor que contar a piada mais idiota do mundo e alguém dar risada. Sara era o nome dela e para surpresa de Edinilton, revelou que era seu nome verdadeiro. Até mostrou a carteira de motorista para ele. Sara Subhister. - Sobrenome interessante. É judia? - Sou. - Uma garota de programa judia? - Acha que não existem garotas de programa judias? - Por que você é garota de programa? - Você é repórter de algum jornal? - Não, desculpe, não lhe faço mais perguntas. Sua família sabe o que você faz? - Não apenas sabe, como meu pai é o dono da boate. Entraram no quarto. Edinilton ficou pensando na quantidade de porra que já havia sido derramada ali, talvez fosse possível encher o Oceano Pacífico. - Sara Subhister, os clientes já devem ter lhe pedido as coisas mais absurdos. - Nem me fala... que maluquice vai me mandar fazer. - Você vai contar esta história para seus netos: eu quero escovar os dentes, antes de transar com você. Sara Subhister lhe deu a própria escova de dentes, passou o creme sobre ela e deu a Edinilton, que foi ao banheirinho anexo e deu um trato nos dentes. Quando ia saindo, Sara apareceu com um enxaguante bucal. Edinilton fez um bom bochecho e depois pediu para Sara Subhister analisar o aroma. - Está perfeito... desculpa, não perguntei seu nome. - Edinilton X. Não é meu nome verdadeiro. Sara Subhister guardou de volta a escova de dentes em sua bolsa. - Vai guardar a escova? - Qual o problema? Você tem peste bubônica? - Espero que não. - Tem alguma doença transmissível? - Minha avó tinha osteoporose. - Então acho que não tem nenhuma doença transmissível. Quando terminaram a transa, que foi sensacional e inesquecível, Sara Subhister deu seu cartão a Edinilton e pediu para ele lhe mandar flores. Edinilton não entendeu muito bem o pedido, mas na segunda-feira, mandou um vaso de flores bem caprichado para ela. Ao sair do quarto, percebeu Overman conversando com uma bartender com aparência masculina. Pediu um copo de água tônica com limão e Overman aproveitou para tirar sarro da cara dele: - Moça, meu amigo está à beira da morte. Tomou uma garrafa de uísque, vomitou na metade da Rua Augusta e agora quer uma água tônica com limão. Edinilton tomou o refrigerante e voltou a caminhar Augusta acima, com Overman. - Sabia que aquela bartender é lésbica? - Fiquei levemente desconfiado. - Ela disse que já comeu todas as putas da boate Getsemani. - Não duvido. As minas passam a noite toda sem gozar, então é preciso uma mina carinhosa para lhes dar algum conforto espiritual. Qual era o nome dela? - De quem? - Da bartender. - Eu sei lá. - Overman, você nunca pergunta o nome de garçons nem bartenders, nem nenhum trabalhador? - Eu não, o que saber o nome destas pessoas vai acrescentar algo em minha vida? Você perguntou o nome da puta que você comeu? - Sara. - E sua vida mudou, após saber o nome dela? Responda sinceramente. Edinilton retirou um cartão do bolso e mostrou a Overman. - Ela me deu até um cartão. - “Sara Subhister, cirurgiã dentista”. Ahahahahahahah... - Pois é, ninguém nunca vai acreditar nisto. Guardou o cartão de volta no bolso. - Ela cagou no seu pau? – perguntou Overman. - Não, não chegamos a fazer sexo anal. - Ah, bicho, tu é um idiota mesmo, ficou traumazido por culpa de uma pouco de bosta. - Ela que não quis. - E puta tem querer? - Bem, eu não insisti, até porque a trepada saiu bem cara, 300 paus. Imagina com sexo anal, iria dar uns mil reais. Mas fez um boquete bem caprichado. Chupou até minhas bolas. Uma de cada vez e depois enfiou as duas ao mesmo tempo na minha boca. A mina era fera. - Cara, tu termina de contar as duas histórias que começou ou eu te mato. “Deixa comigo. Primeiro a dos Cavaleiros Rancum. “Comprovando a superioridade da espécie humana, o líder dos cavaleiros Rancum era um humano. Era homem, loiro e de olhos azuis. Qualquer um diria que o autor desta história seria puramente um racista filho da puta, mas era verdade. “O nome dele era Woncher. Ele ficou mais interessado na humana do que no restante do planeta. A garota, igualmente loira e de olhos azuis chamava-se Dinaksen. Ela também olhou atentamente para ele, mas Woncher dirigiu-se a Brobdingnag. Naturalmente, Woncher já sabia que Brobdingnag era o sumo-sacerdote dos Jedis daquele planeta. Quando Woncher aproximou-se, Borbdingnag fez uma reverência com a cabeça, como era comum entre os jedis. Woncher retirou a máscara. A sua forma de cumprimentar e reverenciar a seus interlocutores. Os outros Rancum também retiraram suas máscaras. “-Não sei se devo dizer que é uma honra ou uma tristeza recebê-los aqui, senhor. – disse Brobdingnag. “-Eu sei o que o senhor está dizendo. Os Rancum surgem apenas que o mundo está para acabar. “-Eu não acreditava que os senhores existissem. “-Tampouco eu estava pensando no dia em que seria retirado de meus afazeres nas minas de obleptênio e assumir minha missão. “-O senhor vive em nossa própria galáxia? “-Sim, acredito que apenas eu viva. No treinamento probabilístico em Rancúnia não nos dão informações decisivas. O universo não segue ordens rígidas. Meus companheiros provavelmente tem origem em outras galáxias. “Os outros Rancum confirmaram, balançando a cabeça. “- Uma pequena pergunta, de quem nem sequer imaginava que os Rancum existissem: se foram enviados a nosso humilde planeta, isto significa que Deus existe. “-Eu sou um Rancum, sacerdote. Minha resposta só pode ser uma: talvez”. “Um jedi afobado apareceu à frente de Brobdingnag e perguntou de sopetão? “-É verdade que os Rancum são imortais? “- Talvez? – perguntou Brobdingnag. “Woncher sorriu e disse: “- Desde o início de todas as eras, jamais um Rancum foi morto. Se o Universo acabar, nós provavelmente continuaremos vivos”. “-Como eu faço para me tornar um Rancum? – perguntou o mesmo jovem jedi afobado. “-Você quer ser um Rancum? “Os outros Rancum riram. “-Meu jovem, sabe quem é esta garota? – apontou Woncher para a humana Rancum. – Ela é minha irmã. “Ela se aproximou e abraçou longamente a Woncher. Ele explicou: “- Quando eu acordei e vi a Clava, suspensa no ar, a minha frente, eu já sabia que seria afastado de tudo aquilo que eu amava e me dava prazer. Minha profissão, minha família, meus amigos, minha esposa, meus filhos, meu planeta. Não sei há quantos milhares de anos eu não vejo minha irmã Dinaksen... “- 113.469 anos terrestres. – corrigiu Dinaksen. “- Que é exatamente o tempo em que estou enfiado num planeta que faz 100 graus abaixo de zero, extraindo e processando obleptênio. “O nornon tomou a palavra: “-Mas quando você acorda e se depara com a Clava... quem se recusa se tornar um Rancum?” “- Presumo também que um jedi jamais se torna um Rancum. – disse o jovem. “-Sacerdote, conte para ele. – pediu Woncher. “-Ahn, você quer dizer que um de nós será enviado para Rancúnia e terá a chance de tornar-se um Rancum? “-Talvez. Bem, antes, vamos nos reunir e discutir o problema de seu planeta. Não fomos enviados para cá por um motivo qualquer. O planeta vai ser destruído. Precisamos saber por quê.” Houve um tempo em que só havia comida para duas pessoas, quando havia três para comer. Naquela época, ainda não haviam inventado a expressão “Onde comem dois, comem três”. Até porque a comida era tão pouca que mal dava para meia pessoa. Estou tentando ler mais uma vez a “O Apanhador no Campo de Centeio” [“The Catcher in the Rye”, título mais bonito em inglês]. Dizem que o próprio J.D. Salinger aprovou o texto e a tradução em português, como também aprovou a capa e tudo mais. O foda de ler Salinger é que a gente começa a escrever igual a ele e eu não gosto de escrever igual ao Salinger, gosto mais de escrever igual ao Hemingway. Obviamente, não escrevo igual a nem um nem a outro. Com muito esforço, alguém poderia comparar meu texto ao pior bilhete que minha professora que me ensinou a ler escreveu para alguém. [Digo isto porque minha professora de português era uma boba, como não poderia ser diferente a alguém que se dedica a ensinar débeis mentais de sete anos, como eu, a ler, mas afinal alguém tem que fazer esta merda desta tarefa, como ser lixeiro, garçom, etc]. Outro dia eu estava lendo que se você disser para um aluno de 18 anos que 1 + 1 = 2, mas dependendo do universo, ele vai pensar: “Minha professora de matemática é louca”. Mas se você disser para uma criança de cinco anos: “No nosso universo, geralmente 1 + 1 = 2, mas em outro universo talvez não seja”. A criança fica encantada, pensando em como aquilo pode ser interessante. Portanto, numa aula de português, não se deveria ensinar o beabá para uma criança, mas latim, grego clássico e árabe clássico, os idiomas que deram origem ao português. Dizem que, no Brasil, a escola, por ordem dos norte-americanos, que patrocinaram o Golpe Militar, deve ser voltada para transformar as crianças em imbecis e não em seres pensantes e críticos e imaginativos. Eu não tenho a menor dúvida disto. Eu odeio escola. Adoro estudar e ler e frequentar bibliotecas e pesquisar, mas frequentar escola mesmo, abomino. Sou o tipo de cara que sofre bullying dos próprios professores, dá para acreditar nisto? Na minha formatura da oitava série, a diretora da escola homenageou a Elisete, a menina que tirava dez em todas as provas porque era muito estudiosa. Acordava bem cedo, estudava tudo, decorava tudo e logo, tirava nota dez. Depois que a Elisete terminou a escola, foi fazer faculdade de Educação Física. Eu a encontrei na rua e ela me disse isto e eu não acreditei. Falei: “Elisete, você ganhou prêmio de melhor aluna da escola porque tirava dez em todas as provas. E está fazendo faculdade de Educação Física?” Ela respondeu: “Quem tinha que fazer faculdade de astrofísica e cosmologia era você, que aprendeu a ler em um único dia, fazia equações de segundo grau de cabeça e nunca estudou para nenhuma prova, mas tirava notas boas em todas”. Portanto, quem deveria ter ganho o prêmio de melhor aluno era eu. Se bem que ter sido flagrado fazendo desenhos nas paredes duas vezes deve ter me prejudicado um pouco. Na primeira vez, a aula estava muito chata – educação sexual? – e eu comecei a desenhar e escrever na parede da classe, mesmo com a professora presente. Obviamente, ela parou a aula, me pediu para apagar tudo e comeu meu rabo. Numa outra ocasião, eu estava fazendo meus próprios avisos no mural de avisos do pátio principal da escola. Estava lá escrevendo coisas do tipo: “O planeta Júpiter poderá ser visto no domingo à meia-noite, portanto todos os alunos estão convocados para comparecer à escola vestidos de navegadores portugueses”. O secretário da escola viu e também me mandou apagar e também comeu meu rabo. Para terminar, um questionamento que fiz à professora de história e todo mundo deu risada da minha cara. Ela disse: - O Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500. - E os índios? – perguntei. - Que que tem os índios? - Os índios já não tinham descoberto o Brasil mais de 30 mil anos antes? Foi uma gargalhada geral. Até hoje, quando encontro gente da minha escola, no Facebook, as pessoas comentam sobre isto. Pois bem, para começo de conversa, devo dizer que nunca gostei de J.D. Salinger. Estou lendo esta bosta de “O Apanhador no Campo de Centeio”, que tantas pessoas idolatram porque era o livro que aquele cara que esqueci o nome estava lendo quando matou John Lennon [sabe Deus porque um sujeito vai matar alguém e leva um livro junto]. Até então o livro do Salinger havia vendido 2.754 exemplares. Após o assassinato, já vendeu mais de 150 milhões de exemplares e Salinger morreu sem nunca ter ido à prisão agradecer ao assassino de John Lennon. Eu acho. Salinger foi vítima de sua própria teoria: Ele enlouqueceu depois com a fama e o assédio e se isolou do mundo. Muitas pessoas, quando ficam famosas e assediadas também enlouquecem. Uma coisa que especialmente a celebridade não gosta é justamente quando encontra alguém que a conhece muito bem e a trata como melhor amigo de infância. Porque pensou que era, realmente. Isso aconteceu comigo, quando tentei falar com Marcelo Rubens Paiva. Se eu fosse mulher, com estes meus olhos azuis e esta bunda magnífica, talvez a reação fosse diferente. Stephen King também tem problemas com fãs malucos. Os únicos caras até hoje que eu ouvi falar que, durante a fama, você tem que agüentar tudo, foram Jô Soares, Chico Anysio e Pelé. Não sei se é verdade, mas é o que eles dizem. Fala sério, ser famoso deve ser a coisa mais maravilhosa do mundo. Quando eu viajei de avião, vi uma comissária de bordo que era a maior gata do mundo. Ela passou por mim e não olhou para minha cara. Se eu fosse famoso, ela pediria meu autógrafo e eu responderia: “Então, o que é que tem de bom para fazer em Teresina, numa terça-feira à noite”. “Ah, eu conheço alguns bares, já voei para Teresina 127 vezes”. E pronto, vai comer bem comido uma comissária de bordo, até porque dizem que elas são muito carentes, já que os comissários de bordo são gays e os pilotos são casados. Por falar nisto, um amigo meu comeu duas de uma vez. Duas gaúchas. Imagine só, duas deusas gaúchas na sua cama. E ele não era nem famoso, era só carismático, algo que eu nem sonho em ser um dia. Nem sei como é que é isso. Muito pelo contrário. Dizem que é coisa de capricorniano. Leva dois anos e meio para você desenvolver uma simpatia por um capricorniano. Depois, se apaixona tão devastadoramente pelo capricorniano, porque ele põe o inconsciente para funcionar e sabe qual a palavra e a coisa certa para fazer e aí as minas fogem dos capricornianos como o diabo foge da cruz. Se é que o diabo foge da cruz. O diabo foge de alguma coisa? Acho que ele não foge de nada. Ele vai embora de cansaço. Você, se for um exorcista, vai bater na mina sete semanas seguidas, gritando “Sai capeta em nome de Jesus”, até que uma hora ele se cansa e fala: “Tá, já me convenceu, eu vou embora”. E o exorcista sai do quarto com aquela cara de fodão. Depois vai para casa pensando: “Pensei que a menina iria se masturbar com um crucifixo, mas tudo que ela fez foi vomitar sopa de ervilha na minha cara”. Também devo dizer que não vejo a hora de acabar este livro. Sou um escritor que não gosta de escrever. A não ser que eu enlouqueça por uma história e escreva 72 horas seguidas sem parar, mas isso raramente acontece e, quando acontece, eu releio a história e percebo que era uma verdadeira merda, incluindo as incoerências, como esquecer personagens pelo caminho, mudar nomes, mudar profissões. Garotas loiras se tornam ruivas, e por aí vai. Também devo dizer que diminuí a letra para escrever mais coisas, senão o livro iria ficar muito pequeno. Também devo dizer que esqueci o nome do planeta em que ocorre a história dos Cavaleiros Rancum e estou com preguiça de rolar a página lá para cima para ver o nome. E finalmente, terei que concluir a maldita história do seqüestro sem arma nenhuma no Rio de Janeiro. Mas cada idéia de jerico que eu tenho. “Borboletas sempre voltam e o seu jardim sou eu”, dizem o Victor e Léo. Sertanejo universitário estúpido. Se fossem universitários, saberiam que os machos voam na direção das fêmeas [como em qualquer espécie animal]. As fêmeas exalam um feromônio que o macho sente a uma distância de 11 km. E voa igual um louco para comer a fêmea, afinal que macho não voaria 11 km para dar umazinha? Não é toda hora que tem uma fêmea querendo dar pra você a 11 km de distância. No Universo, acontecem coisas que você jamais saberá nem daqui 20 bilhões de anos. O Universo é incalculavelmente grande. Não dá nem para saber direito se há outros Universos. Provavelmente sim, ou além do Universo, há outra coisa que não sabemos o que é, nem nunca saberemos. Na época em que os Rancum foram chamados pela Clava ao planeta Glosm [vou chamar de planeta Glosm até lembrar o nome correto dele], havia o tráfico intergaláctico. Naturalmente não que uma galáxia se comunicasse com outra há 15 bilhões de anos-luz, até porque para isso seria preciso viajar no tempo e não é uma boa idéia viajar pelo espaço viajando pelo tempo, por isto, por isto os Rancum chegaram Glosm viajando pela Estrada Escura, uma invenção dos humanos, de muitos milhares de anos atrás, que possibilitava a viagem intergaláctica, mas ela era limitada, porque depois de uma certa distância, a Estrada Escura voltava para si própria e o viajante acabava andando em círculos. Era algo que só os astrofísicos sabiam explicar, mediante fórmulas extremamente complexas. Antes da Estrada Escura, os Rancum viajavam pelo processo de Desintegração Temporal Quântica, algo que já existia desde o início do Universo, antes mesmo do Big Bang, mas eles chegavam aos destinos meio fragilizados. Quando resolveram viajar pela Estrada Escura dos humanos, chegavam lá firmes e fortes e botando pra quebrar, como fizeram em Glosm, espantando os Gigantes. O que os Gigantes queriam, enfim? Não se pode prever o tipo de consciência ou inconsciência de um alienígena. Chega um cidadão de 200 metros de altura que simplesmente quer destruir o seu sistema estelar, como se precisasse disto para sobreviver. Foi uma grande batalha. Não se sabe se algum dia algum pelotão Rancum enfrentou inimigos tão poderosos quanto os Gigantes. Isto porque os Gigantes não enfrentavam diretamente aos jedis nem aos Rancum, mas ao planeta e seus habitantes. E em Glosm havia muita gente, coisa de 700 bilhões de habitantes, oriundos dos mais diversos planetas das imediações. Depois de uma longa batalha que parecia infrutífera, os 22 Gigantes que atacavam Glosm incandesceram-se. Brobdingnag, com sua intuição jedi, pediu para todos se retirarem. Ele sabia que os Gigantes iria destruir Glosm. Uma destruição nuclear. Não iria sobrar absolutamente nada. O Rancum humano Woncher, que não era o líder por acaso, mas por ser mais poderoso e forte que os outros, utilizou toda sua força interior e expulsou a todos para o espaço, inclusive aos próprios companheiros Rancum. Naves espaciais passaram a recolher os seres de Glosm em seus compartimentos de carga e afastavam-se o tanto quanto podiam. Faltando apenas alguns segundos para a explosão final, Woncher projetou-se para o espaço, à velocidade da luz e há um milhão de quilômetros de altura de Glosm, enquanto o planeta era destruído por uma violenta explosão nuclear, Woncher foi de encontro à fuselagem de uma das naves, desfalecendo imediatamente. Um portão foi aberto e um braço robótico recolheu Woncher. Bem longe dali, do outro lado da galáxia, num planeta amigo chamado Yukorx, foi armado o funeral de Woncher. O primeiro Cavaleiro Rancum morto da história do Universo. O corpo de Woncher estava sobre um altar e todos à volta estavam muito tristes e comovidos. Woncher deu a própria vida para salvar bilhões e bilhões de seres. Sua irmã, naturalmente, era a mais triste. Alguns minutos depois, Woncher abriu os olhos e se levantou, sob aplausos e gritos dos presentes. Brobdingnag sorriu, pensando: “Os Cavaleiros Rancum são realmente imortais”. E foi esta a história que Edinilton X havia contado ao apavorado cidadão carioca, na cozinha da casa dele. Bem no momento em que sua esposa e filha haviam chegado. - Agora sim eu iria começar a me divertir, Overman. Mas estou cansado de falar. Só você falou até agora, fala alguma coisa, conta alguma história. Estou com dor de cabeça por culpa do meu nariz entupido. Não tenho dinheiro para comprar remédio e para falar a verdade, eu deveria tomar vergonha na cara e parar de usar descongestionante nasal, pois obviamente estou viciado nesta merda. Quantas pessoas você conhece que colocam 100 gotas de descongestionante no nariz por dia e fica psicótico se esquecer de colocar no bolso, antes de sair de casa? Por falar em sair de casa, eu assumi que não gosto nem consigo sair de casa para nada, aliás o lugar mais longe que vou é meu psiquiatra, na Ponte Grande. Mas eu deveria estar falando isto no outro livro, não neste. Edinilton X e Overman Cruz subiram a Augusta, enquanto Overman resolveu falar. E lá na Avenida Paulista aconteceu algo terrível. Bem, o que Overman Cruz disse foi o seguinte: “Você acredita em ex-gay? Eu sou um ex-gay. Um dia eu resolvi dar o cu para ver se era bom e odiei. Então pensei: vou chupar um pau. Não apenas não senti nada, como achei o gosto da porra horrível. Mas você deve pensar: eu não sou um ex-gay, porque nem cheguei a ser gay, apenas fiz uma experiência motivada por alguma loucura de escritor que quer experimentar tudo na vida e a coisa não foi bem sucedida, como jogar uma pedra num carro de polícia e ir preso só para saber como é a prisão. Mas não ficaria estigmatizado por ter ido preso, muito pelo contrário. Diferente de ter praticado sexo com dois caras e ter recebido porra dentro do cu e dentro da boca e tentar convencer as pessoas de que você é um ex-gay ou fez estágio para ser gay porque não havia nada melhor para fazer. Só estou te contanto isto porque você é completamente retardado, Edinilton, e amanhã não vai se lembrar desta história e um dia vai chegar para mim e dizer que um amigo seu contou que era ex-gay e você não se lembrava quem tinha sido. Sem falar que mesmo que você contar, ninguém vai acreditar, porque você só fala merda, é completamente louco, não é à toa que me contou duas histórias completamente absurdas hoje. Ou melhor, começou a contar a história do seqüestro no Rio de Janeiro e não quer terminar. Daí eu fiquei pensando no livro ‘Morte em Veneza’ de Thomas Mann. Thomas Mann era gay? É uma história sobre homossexualidade? Não consegui entender aquele livro. O filme do Luchino Visconti tem um conteúdo mais homossexual. Fiquei achando que ao invés do velho morrer do coração, ele deveria chegar para o garotinho e falar: ‘Ei, gatinho, se eu te pagar um sorvete, você me deixa chupar seu pau?’ Ele responderia: ‘Hum-hum”. Daí, enquanto o garoto está sentado numa cadeira na praia tomando o sorvete, o velho está se esbaldando chupando o pau do moleque. O moleque goza na boca do velho, que engole tudo e agradece efusivamente o garoto, que simplesmente diz: ‘Pode me pagar outro sorvete, tio?’ E o tio paga. Daí no verão seguinte, eles se reencontram, mas o garoto desta vez está não com a família, mas acompanhado de um outro velho. Ah, safado, descobriu um fonte de recursos, hein? Ele finge que nem conhece o professor, que fica muito triste. Mas uma manhã, um garçom lhe entrega um bilhete: ‘Encontre-me na Piazza Del Angeli, atrás da igreja, às 18 horas.’ O velho não entende. Conhecia bem Veneza. Não existia porra de Piazza Del Angeli nenhuma em Veneza, do que será que aquele garoto estava falando? Mesmo assim, por volta de 17 horas, andou, andou, andou, por Veneza inteira, pediu informações a todo mundo e voltou para o hotel, exausto. Aí acaba o livro. Que achou do meu novo desfecho de ‘Morte em Veneza’?” - Deveria mudar o nome do livro, já que o velho não morreu. - Não, quem morreu, na verdade, eu esqueci de falar, foi o garoto, assassinado. - Ah, sim, agora eu gostei. - Cuidado, cara! Edinilton X foi atravessar a Paulista sem olhar o sinal e foi violentamente atropelado. O atropelador, naturalmente, fugiu. Overman pegou o celular e ligou para o Samu. Esperaram 20 minutos e o Samu chegou. Overman se despediu de Edinilton X, enquanto este era colocado dentro da ambulância. - Valeu, Overman, depois eu te mando um e-mail com o restante da história do Rio de Janeiro. Dentro da ambulância, Edinilton ficou pensando no que havia acontecido no Rio de Janeiro. A mulher do cara chegou e Edinilton, sempre fingindo estar armado e louco, obrigou o carioca a comer a própria filha dele. Para surpresa de todos, especialmente da mulher do seqüestrado, ele demonstrou enorme excitação com o ato e gozou muito rápido, em menos de um minuto. Edinilton deu ordens para que se trancassem no banheiro. Pegou o Ecosport do cara, saiu de ré destruindo o portão e partiu para qualquer lugar, já que não conhecia o Rio de Janeiro. De repente, viu uma placa indicando a Ponte Rio-Niteroi e seguiu por ela. Foi, foi, foi, até chegar em Maricá, uma cidade que os cariocas conhecem bem, mas os paulistas nunca ouviram falar. fim

One Response so far.

  1. Unknown says:

    Hoje em dia, ninguém lê, mas prometo que passeio seu romance no rego dos meus seios de silicone :-)

 
 

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